Os impactos da pandemia em imigrantes e estudantes de medicina
A décima edição de videoconferências do Ciclo de Webinares da AMP contou com cerca de 200 inscritos. São pessoas que buscam nas palestras aprender um pouco mais sobre assuntos que já dominam, mas que, com a pandemia passaram a ter importância ainda maior. A videoconferência com tema central “Os impactos da pandemia em dois grupos sociais: os estudantes de medicina e os imigrantes”, teve a participação dos palestrantes Sérgio Baldassin, professor da Faculdade de Medicina do ABC Paulista e Pedro Colen, psiquiatra com residência em psiquiatria na Universidade de Paris e especialista na cidade de Governador Valadares. O presidente da AMP, Humberto Correa, foi o moderador e o diretor da instituição, Maurício Leão, o debatedor.
Inicialmente, o psiquiatra Humberto Correa fez uma breve explanação sobre a XX Jornada Mineira de Psiquiatria e eventos paralelos, lembrando que este ano a Jornada será o maior evento de psiquiatria do Brasil, com quatro salas simultâneas, 25 conferências, 25 palestrantes internacionais, 35 mesas redondas e mais de 150 horas de atividades ao longo de seis dias. “É muito importante que as pessoas se inscrevam, lembrando que psiquiatras quites com a AMP, tem a gratuidade da inscrição em qualquer dos eventos”, diz o presidente da AMP.
Pedro Colen iniciou sua participação, fazendo um breve relato sobre a emigração de mineiros de Governador Valadares para os Estados Unidos nos anos 1960, quando na época, estimava-se que 10% da população da região teria ido para os USA tentar o sonho americano. Normalmente eram pessoas sem qualificação que ao chegar naquele país não tinham outra opção a não ser trabalhar em subempregos, sem direito a qualquer benefício, nem mesmo à saúde. Hoje, não só mineiros, mas brasileiros de outros estados e pessoas de outros países como latino-americanos fazem parte da população de imigrantes nos Estados Unidos. São 42 milhões de pessoas, uma grande parte sem documentos, vivendo clandestinamente. “Com a pandemia, estes imigrantes, em constante preocupação por causa da estabilidade precária e dos riscos de deportação, não falam o inglês e com pouco acessos à saúde passam por momentos difíceis, pois não têm direito ao seguro-desemprego e nem ao auxílio emergencial”, diz Colen. Segundo o médico, isso tudo, aliado a outras questões, faz com que o imigrante entre em um estado de estresse e ansiedade, colocando em risco sua integridade física e mental. “Trata-se de um problema no mundo inteiro, pois vivemos uma crise humanitária e os danos serão irreversíveis, caso ações imediatas não sejam tomadas”, finaliza.
Para o professor Sérgio Baldassin, é sabido que um grande parte de estudantes de medicina sofre com estresse no seu cotidiano, o que causa, entre outros sintomas, depressão, ansiedade, síndrome de Burnout e ideias de suicídio, tudo isso provocado por um ambiente competitivo, com muitas cobranças. Mesmo assim, ele não procura ajuda profissional. “Agora na pandemia, esta situação piora ainda mais, pois houve uma ruptura da normalidade. Os alunos ficaram incertos, as aulas emergenciais não aconteceram, muitas instituições se esqueceram dos alunos, muitas aulas ficaram aquém do esperado e houve até alunos que se sentiram assediados por professores”, disse Baldassim. O professor falou ainda, em sua palestra, sobre a volta às aulas presenciais e o temor que alguns alunos estão tendo de um momento que não sabem como será, o que vem causando ou outro tipo de estresse. Segundo ele, a importância neste momento é a resiliência e que estes alunos têm que se preparar pois as aulas on-line serão uma realidade.
O debatedor Maurício Leão lembrou que existem 3,5 mil estudantes de medicina espalhados em 323 faculdades brasileiras e apenas 20% delas são públicas. “Estes dados reforçam a ideia de um motivo a mais na preocupação dos estudantes das escolas particulares de medicina. Desta vez é a situação financeira. A crise desencadeada pela pandemia afetou muitos pais desses alunos que não têm como honrar seus compromissos com o pagamento da anuidades das escolas e os filhos ficam sem perspectiva de futuro e abalados”.