Idosos e o SUS na saúde mental durante a pandemia foram os temas do segundo dia de simpósio da AMP

No segundo dia do I Simpósio sobre Pandemia, Barragens e Políticas Públicas organizado pela Associação Mineira de Psiquiatria em parceria com o grupo Renova Galba o tema das discussões foi Isolamento Social e Adoecimento Mental na Pandemia. Com coordenação do psiquiatra Bruno Couto Moreira, o evento contou com a participação de 260 pessoas de diversas profissões.

A primeira pessoa a falar foi o psiquiatra Bernardo Viana que tratou o tema: Repercussões e conselhos sobre o que fazer para melhorar a saúde mental dos idosos nesta pandemia. Ele ressaltou a importância da escolha nesse momento de pandemia. Muitos idosos preferiram ficar isolados com medo de se infectarem e outros escolheram os riscos de ficar ao próximos de seus entes. E essas escolhas trouxeram impactos na saúde mental desses idosos.  Viana alertou sobre os sinais de estresse nos idosos como angustia, sentimentos de estado de choque, atordoamento, desesperança, mudança de níveis de energia ou atividade, dificuldade de concentração, mudança no apetite, problemas no sono ou pesadelos, entre outros. Ele apontou que a pandemia afetou questões básicas da saúde no país. “Houve um grande impacto nos suportes de assistência social e da saúde mental para os idosos”, e pergunta: “Como internar uma pessoa com transtorno mental grave sendo idosa? E se não tem internação, como ter um suporte a longo prazo em pessoa com transtorno mental grave sendo que eles precisam de um suporte clínico e mental?” Viana descreve ainda o que muitas vezes acontece quando é necessário internar ou recorrer a um tratamento.  “Os Centros de Assistência Psicossocial (CAPS) tendem não aceitar por que o paciente tem uma descompensação clínica, o hospital geral por que o paciente tem alguma descompensação psiquiátrica e os hospitais psiquiátricos estão com seus leitos sendo reduzidos por diversas políticas públicas e também não recebem”, alerta. 

Logo depois o psiquiatra Quirino Junior, Secretário Nacional de Cuidados e Prevenção às Drogas do Ministério da Cidadania falou sobre as Propostas do Governo Federal para prevenção e tratamento da Dependência Química durante e após a Pandemia. Ele chamou atenção para o fato da saúde mental no Brasil ter sido impactada pelo discurso ideológico que trouxe consequências graves. “Infelizmente nos últimos anos nós tivemos a construção de uma política pública na área da saúde mental que foi organizada sob um viés ideológico importante que obedeceu pouco aos parâmetros técnicos”, afirma. Quirino apresentou a Nova Política Nacional de Saúde Mental criada em 2017  e falou sobre os trabalhos que a secretaria, que ele está à frente, tem desenvolvido junto ao Ministério da Saúde. Segundo Quirino foram criados novos serviços como 105 CAPS, 175 leitos em hospitais gerais, 40 equipes ambulatoriais e 6 unidades de acolhimento. Quirino alertou que o Brasil estava com muito problemas no atendimento à saúde pública com fechamento de ambulatórios e desassistência. E afirma: “Nós colocamos o hospital psiquiátrico na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), colocamos o hospital psiquiátrico dentro do Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD), então os hospitais psiquiátricos são hoje muito importantes dentro das novas políticas nacionais de saúde mental e de drogas. Nós tivemos um aporte de recursos financeiro emergencial aos hospitais psiquiátricos filantrópicos no Brasil durante a pandemia e trabalhamos para ajustes contratuais desses hospitais com o Sistema Único de Saúde com a ideia de proteger essas instituições”.

Após a fala do Quinino, foi a vez da presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais, Cibele Alves de Carvalho, falar sobre Adoecimento dos Profissionais de Saúde durante a pandemia: um cuidado constante. Em sua participação Cibele discorreu sobre fatores que impactaram a saúde e a situação de médicos e profissionais de saúde. Ela lembra que circunstâncias dicotômicas ocorreram no início da pandemia. Condomínios e prédios, por exemplo, pretendiam deixar um elevador exclusivo para moradores que fossem profissionais de saúde. Alguns chegaram a ser agredidos dentro de transportes públicos por serem apontados como transmissores do vírus. “Éramos desejados para cuidar, mas ao mesmo tempo éramos completamente rejeitados porque poderíamos ser portadores de uma doença grave.” Cibele lembra que o medo de adoecer outras pessoas, a responsabilidade de cuidar, o silêncio perante a realidade caótica que os hospitais enfrentavam, foram fatores extremamente sensíveis que os profissionais de saúde tiveram que conviver. “O fato de ficarmos longe dos entes queridos nos trouxe a solidão, nos trouxe o isolamento e o isolamento de nossas angustias porque você começava falar ‘nossa, hoje no meu plantão morreram tantos pacientes de covid’, você ia trazer simplesmente um pânico para a população.” Ela lembra que muitos profissionais tiveram que tirar licença por estarem infectados ou por terem convivido com alguém muito próximo, as equipes ficaram desfalcadas e a sobrecarga de trabalho foi inevitável. Houve também um impacto financeiro de muitos médicos, por não atenderem em seus consultórios e não realizarem procedimentos particulares. Segundo Cibele, essa situação melhorou um pouco, mas afeta ainda muitos médicos. “Quantos filhos de médicos não tiveram que mudar de escolas privadas para escolas públicas”. Outros fatores como a realidade nos hospitais com decisões difíceis a serem tomadas e momentos muito emocionantes com pacientes fizeram e ainda fazem parte da realidade dos profissionais de saúde.

Para fechar a primeira parte da noite o deputado estadual Charles Santos falou sobre Políticas públicas em saúde mental durante a pandemia – A visão de um deputado. Santos falou de sua experiência pessoal na infância e juventude com um quadro depressivo acentuado e desejo de cometer suicídio. No seu relato ele lembra que conversava com sua mãe e foi por causa dela o ter levado para obter ajuda, que o fez sair dessa situação. Ele falou também da criação da Frente Parlamentar de Enfrentamento à Automutilação, Depressão e Suicídio da qual faz parte. Santos falou sobre os trabalhos dessa frente que aprovou a lei 23.577 de 2020 que obriga a notificação de casos de suicídio e de tentativas pelo SUS.  “Essa é uma ferramenta importante para auxiliar o cidadão que está passando por essa situação tão difícil”. Charles Santos falou também que tramitam hoje 12 projetos de lei sobre saúde mental na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. “A Frente Parlamentar tem um apoio integral de todos os deputados, inclusive do gabinete do presidente Agostinho Patrus”.

A segunda mesa da noite tratou o tema Serviços de assistência psiquiátrica no SUS: onde e como procurar seus direitos. Nessa parte participaram o psiquiatra e vice-presidente da AMP Bruno Couto Moura, a psiquiatra Paula Gomes, o psiquiatra infantil Cesar Souza Lima de Mello, o defensor público Bruno Barcala Reis e o deputado estadual Cleiton de Oliveira. Durante a mesa foram relatadas várias dificuldades que pacientes e familiares encontram no atendimento à assistência psiquiátrica em Minas Gerais. Casos que poderiam ser combatidos se a rede de atendimento funcionasse de maneira integrada e com outra dinâmica. Suicídios e tentativas, bem como enfermidades mais complexas poderiam ser evitadas se o acesso de pacientes e de familiares aos tratamentos psiquiátricos fossem mais adequados.

Para assistir às apresentações e aos debates acesse:

 

 

 

 

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