Redução do número de leitos psiquiátricos aumenta doenças mentais principalmente na pandemia
“O fechamento do Hospital Galba Veloso é uma irresponsabilidade”. Desta forma, Quirino Cordeiro, secretário de Cuidados e Prevenção às Drogas do Ministério da Cidadania, Família e Direitos Humanos, iniciou sua palestra na terceira videoconferência do Ciclo de Webinares da AMP, realizada na última quarta-feira. O evento, com mais de 200 pessoas inscritas, teve como tema ‘A assistência em saúde mental em Minas Gerais e a pandemia. O Galba não pode fechar!’. Com a moderação de Bernardo Ramos, médico e vereador de Belo Horizonte, e dos psiquiatras do Galba, Paula Aparecida Gomes e Bruno Couto Moreira, e ainda com a moderação de Humberto Correa, presidente da AMP, o evento foi bastante concorrido em função do agravamento do atendimento à saúde mental do estado, em especial pelo fechamento do Galba.
Quirino desenhou um retrato das condições das doenças mentais no Brasil nos últimos 15 anos, cuja piora vem se dando pela política de fechamento dos hospitais dedicados a pacientes com sofrimento mental. Segundo ele, tem crescido o número de pessoas com transtornos mentais graves agravado pelo consequente aumento do consumo de drogas e álcool, impactando, ainda, no crescimento da quantidade de moradores de rua, das cracolândias, além de encarceramentos e suicídios. Para o secretário, a Nova Política de Saúde Mental vem redirecionar o modelo assistencial em saúde mental, protegendo de forma mais ampla esses pacientes: “Agora temos um parque de hospitais psiquiátricos, no qual se inclui o Galba Veloso, para qual o governo federal tem verba direcionada”, finaliza.
Humberto Correia, disse que desde quando fez residência no Galba Veloso, já existia um desejo de um ramo da psiquiatria de Minas, favorável à luta antimanicomial, em fechar o HGV. Conforme o presidente da AMP, a pandemia da Covid-19 seria apenas uma desculpa para que se efetivasse de vez o fechamento.
“Não tenho o menor problema com as pessoas que defendem a luta antimanicomial. Eu também defendo. Mas não posso ser contra a extinção de um hospital psiquiátrico humanizado como era o Galba Veloso. Temos uma boa estrutura, pessoal habilitado, equipes multidisciplinares e trabalhamos com o processos individualizados. Não consigo imaginar que isso esteja ocorrendo de verdade, sobretudo pelo mal que isso tudo faz a pacientes e seus parentes”, diz a psiquiatra Paula Aparecida Gomes, que atendia no Galba e é uma das mais atuantes defensoras desta unidade hospitalar.
O psiquiatra Bruno Couto Moreira, que também atendia pacientes no HGV, informou que trata-se de uma questão de humanidade e sensatez e que não há como entender a desculpa do governo em adequar as dependências do Galba a leitos para atendimento aos pacientes clínicos da Covid-19. “Desde o dia 20 de março estamos aguardando as obras, o que até hoje não ocorreu. Não houve nenhuma reforma. E o pior é que pacientes continuam sem ser atendidos, pois no Raul Soares não há vagas e nem todos os Caps funcionam 24 horas”.
Já o médico e vereador Bernardo Ramos, disse que o fechamento do Hospital Galba Veloso é muito sério: “Acredito que é necessário resolver o problema dos pacientes o quanto antes, pois com o isolamento social, os distúrbios são agudizados. Para ele, são três os desafios a serem enfrentados: o ideológico, cujas diferenças necessitam ser esquecidas no passado; a gestão do hospital, que não deixou em nenhum momento a desejar e a representatividade que tem que ser discutida em todas as três instâncias políticas: municipal, estadual e nacional para tentar reverter a situação.