Interfaces da Psiquiatria e Ginecologia na Saúde Mental da Mulher
A sala 4 dos eventos paralelos à XXII Jornada Mineira de Psiquiatria coube às atividades do III Simpósio de Saúde Mental Perinatal e da Saúde Mental da Mulher da Sociedade Marcé Society. Na tarde de sexta-feira, dia 4, a mesa-redonda trouxe o tema “Interfaces da psiquiatria e ginecologia na saúde mental da mulher”, que teve como coordenadora, Fernanda Schier, professora do Departamento de Tocoginecologia da Universidade Federal do Paraná e membro da Sociedade Marcé Internacional para a Saúde Mental Perinatal. A primeira mesa-redonda teve início com a palestra da psiquiatra Christiane Ribeiro, mestre em medicina molecular pela Faculdade de Medicina da UFMG, na área de Depressão Pós-Parto e membro da Comissão de Estudos e Pesquisa da Saúde Mental da Mulher da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), cujo tema foi: “Tensão pré-menstrual e transtorno disfórico pré-menstrual: como diferenciar e tratar.
A médica dedicou a primeira parte de sua palestra contando um pouco da história da mulher e sua menstruação no mundo e o tabu social e cultural que envolve o tema desde muitos anos antes de Cristo. “Hipócrates já havia relatado os sintomas pré-menstruais, que ele chamou de “sintomas das virgens”, e até hoje este estigma ainda existe até mesmo nos países ocidentais, basta ver os comerciais de absorventes, onde o sangue é azul e não vermelho”, enfatiza.
Ela informa que os ciclos menstruais mudaram nos últimos anos, fazendo que com a mulher tenha em média 100 ciclos em toda a sua vida, pois hoje ela menstrua mais cedo e faz a menopausa mais tarde, colaborando para que os sintomas, que iniciam uma semana antes da menstruação, tenham sua vida prolongada. A especialista diz que os Transtornos de espólio pré-menstrual (TEPM) são responsáveis por alteração emocionais e comportamentais, como mudança de humor e irritabilidade, humor deprimido, ansiedade, fadiga e inchaço das mamas, sintomas que impactam nas atividades de vida da mulher. Conforme Christane, existem diversos fatores de risco que aumentam os sintomas, tais como raça, genética, estilo de vida e até mesmo o histórico de abuso sexual. O estresse pós-traumático vivido hoje pelas mulheres na pandemia pode também ser um fator de risco. Para o tratamento do problema, a médica sugere que a mulher deve mudar seu estilo de vida, passando a fazer exercícios físicos, psicoterapia e até mesmo tratamento farmacológico, hormônios, antidepressivos e ansiolíticos, caso seja necessário.
Sintomas depressivos no climatério
Melina Efraim Vieira (Brasil), com pós-graduação em Saúde da Família e residência em Psiquiatra pela Escola de Barbacena, atua na Rede Fhemig em Belo Horizonte, foi a palestrante desta mesa-redonda. Ela inicia sua exposição falando da revolução sexual implantada no mundo após a criação do anticontraceptivo oral nos anos 1960. A especialista diz que desde a inserção do produto no mercado, não somente o medicamento passou por mudanças importantes, mas a mulher também. A pílula, aprimorada com o avanço tecnológic e a mulher que adquiriu autonomia para fazer seu planejamento familiar foram dois passos importantes para mudanças sociais e comportamentais na sociedade.
A pílula hoje, segundo a especialista, é o método contraceptivo reversível mais usado no mundo, já que os benefícios são visíveis, como a regulação da menstruação, a diminuição da acne e dos transtornos pré-menstruais. Mas a médica questiona se o uso da pílula é para todas as mulheres e a resposta é não, pois estudos realizados em países como Alemanha, Suécia, Dinamarca e Paquistão chegaram à conclusão que uma parte das usuárias não se sentiram bem com o medicamento, preferindo outros métodos contraceptivos.
Sintomas depressivos no climatério, foi a palestra, proferida pela ginecologista Camila Martins de Carvalho, mestre em Saúde da Mulher e preceptora do programa de residência médica no Hospital Vila da Serra. A médica levantou questões já conhecidas sobre os sintomas físicos do climatério, mas focou sua explanação na depressão que acomete as mulheres nesta fase da vida, levantando ainda questões sobre a TPM na fase lútea.