AMP Entrevista: Neury José Botega, um dos palestrantes da XXIII Jornada de Psiquiatria

O mês de novembro foi marcado pela realização do XXIII Jornada Mineira de Psiquiatria. A Associação Mineira de Psiquiatria (AMP) mais uma vez foi responsável pela organização de um dos mais importantes eventos da psiquiatria brasileira com a participação de importantes nomes nacionais e internacionais.  Um deles é o psiquiatra Neury José Botega que falou sobre Risco de suicídio: abordagem com a família. A conferência foi realizada no dia 18 de novembro às 19h30 no Teatro Oromar Moreira da Associação Médica de Minas Gerais.  

Pós-doutorado na Universidade de Londres, Neury é docente titular da Unicamp e autor do livro Crise Suicida: Avaliação e Manejo. Para ele o “luto após a ocorrência de um suicídio aumentam a chance de profundo sofrimento e mesmo de adoecimento mental”.

 Neury deu entrevista para o site da AMP e esclareceu este e vários pontos importantes de um dos maiores problemas de saúde pública que afeta o Brasil e o mundo contemporâneo: o suicídio.

Acompanhe a entrevista.

1 – O papel da família na prevenção ao suicídio é fundamental em todas as etapas do processo de autoextermínio, como se sabe. Como os parentes mais próximos devem ser instruídos para manter, no relacionamento, um diálogo satisfatório com quando pessoa demonstra comportamento suicida?

A pergunta já mostra o caminho para a resposta: “manter diálogo satisfatório”, o que pressupõe abertura e respeito aos sentimentos da pessoa. A possibilidade de um suicídio é assustadora, mas não deveria suscitar comentários automáticos que visam apaziguar (“vai passar…”) ou culpabilizar (“a dor que você vai causar se…”). É preciso ter abertura para ouvir a pessoa que tem ideias de suicídio. Ao se abrir com gente, ela pode encontrar alento e alternativas para lidar com o sofrimento. Não me refiro a uma conduta “passiva” demais de apenas ouvir. Mas, é observando e ouvindo com muita atenção que posso concluir que aquela pessoa não está mais dando conta sozinha e que, por estar mentalmente muito perturbada, necessitará de atenção profissional mais próxima. Às vezes, até de uma internação psiquiátrica. 

2 – Quando o profissional de saúde deve partir para ações como utilização de medicamentos, consultas frequentes com profissionais de saúde mental, internação, etc? E como isso deve ser conduzido junto à família? De maneira geral há uma resistência dos membros em relação aos tratamentos? Como enfrentar isso?

Atualmente há mais informação sobre como se faz uma avaliação sistematizada de risco de suicídio. Trata-se de uma avaliação que precisa ser feita repetidas vezes, pois o risco não é estático. A depender de alguns quadros clínicos, altera-se de um momento pra outro.  Tenho como regra de ouro: a família deve acompanhar de perto o meu trabalho com o paciente potencialmente suicida. Reuniões são feitas para discutir o problema. Agindo assim, a decisão de esquemas mais pesados de medicação, ou mesmo a necessidade de uma internação, costumam ser aceitos pela família.

3 – Quais as doenças levam o paciente a pensar mais em suicídio, além da depressão? A interação de doenças afeta esse quadro?

O que aumenta a probabilidade de ocorrência de suicídio é o acúmulo de conhecidos fatores de risco: depressão, transtorno bipolar, dependência química, isolamento, rompimento amoroso, estar passando por humilhação, não conseguir lidar com um acontecimento estressante, histórico pessoal de tentativa de suicídio, história de suicídio na família, etc.

4 – Os familiares podem passar a desenvolver alguns sintomas ou mesmo enfermidades depois de relacionar com parente doente? Como atuar para minimizar esse risco?

Sim, a convivência, e mesmo o luto após a ocorrência de um suicídio aumentam a chance de profundo sofrimento e mesmo de adoecimento mental e suicídio. Por isso fala-se em pósvenção, que são os cuidados dirigidos a quem suporta o luto por ter perdido alguém por suicídio.

5 – Hoje vemos a formação de novos tipos de núcleos familiares que nem sempre passam por laços sanguíneos. Como funciona essa abordagem com esses novos núcleos familiares na sociedade contemporânea?

É de fato uma situação nova na atualidade, que exige a sensibilidade e o bom senso do profissional. De modo geral, junto com o paciente e com quem o acompanha à consulta, definimos qual o grupo que deveremos convocar para uma reunião de família. Como disse, em casos de risco de suicídio, sempre faço pelo menos uma reunião com os membros da família.

 

Para mais informações sobre a XXIII Jornada Mineira de Psiquiatria e inscrições, acesse: www.psiquiatriamg.com.br

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