Psiquiatria, esporte e bem-estar

Um dos temas que chamou a atenção dos presentes na XX Jornada Mineira de Psiquiatria em seu primeiro dia foi  “Psiquiatria, esporte e bem-estar”, discutido em mesa-redonda, com a duração de uma hora. Coordenada pelo psiquiatra Pedro Paulo Narciso Avelar, professor da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes),  a mesa-redonda deu espaço ao professor da mesma universidade e cientista do ambulatório de Neurociência do Exercício do Hospital Aroldo tourinho, Renato sobral Júnior,  que falou sobre “Mecanismo neurobiológico do exercício baseado em realidade virtual”.

O professor, que tem formação em educação física e doutorado em medicina,  iniciou sua palestra dizendo sobre um estudo existente há mais de dez anos no Brasil, que trata de pesquisas e evidências, demonstrando como o exercício físico do corpo exercita também o cérebro,  fazendo  com que a atividade física venha  tomando  um espaço cada vez maior na psiquiatria, principalmente quando estes exercícios são executados por meio de exergames.

“Os exergames são jogos virtuais utilizados hoje principalmente em idosos, vítimas de AVC sequelados e pacientes com transtornos mentais. Em contraponto aos exercícios físicos tradicionais, principalmente para os idosos, os exergames podem ser considerados uma atividade mais divertida, mais lúdica, o que os motiva  a praticá-los”, diz o professor.

Além disso, continua, a  tecnologia pode torná-los mais ativos, melhorando seu equilíbrio postural . Segundo estudo feito por Sobral e sua equipe, idosos que participaram da pesquisa demonstraram uma melhora na cognição mental, na memória de curto prazo, na mobilidade e no deslocamento.  Quando os exergames são oferecidos junto ao exercício tradicional, pode haver até mesmo uma melhora no controle mictório. Continuando sua explanação, Renato Sobral Júnior fala da intervenção dos exergames  nos cérebros de pacientes com sequelas de AVC e transtornos mentais. “Estes cérebros recebem  mais oxigênio e induzem a  uma proliferação celular, podendo fazer a neuroplasticty.  Por tudo isso, acreditamos na importância da psiquiatria e da educação física trabalhar conjuntamente”, finaliza o professor.

Psiquiatras prescrevem exercícios físicos?

Na segunda palestra foi a vez do psiquiatra  Pedro Paulo Narciso Avelar, professor da Faculdade de Medicina da Unimontes, dar sua contribuição ao debate, com o tema  “Os psiquiatras estão prontos para prescreverem exercício físico”? Começando sua palestra, o professor mostra imagens de crianças da atualidade, que, viciadas em tecnologia, esquecem-se das brincadeiras, leituras e, consequentemente, dos exercícios físicos, o que pode contribuir para obesidade, ansiedade e depressão. Esta situação leva pais e responsáveis a buscarem psiquiatras para responder às suas indagações.  Lembra, entretanto, que, com os exergames, as crianças brincam, se divertem, trabalham a mente e  fazem exercício físico saudável, tudo isso utilizando a tecnologia que gostam tanto. “É a união do útil ao agradável”, afirma Pedro.

O médico faz uma ampla explanação histórica dos estudos  da medicina do corpo  dissociada do cérebro, desde a  Grécia Antiga de  Platão,  passando  por Sócrates, Hipocrates e Galeno , até a Idade Média com Descartes que fundou a medicina moderna. Mesmo este, no entanto, manteve separados os estudos de  corpo e mente.  Somente a partir da criação da psicanálise em meados dos anos de 1800 por Sigmund Freud, a dicotomia corpo e cérebro passou a ser analisada  juntamente. Trata-se do chamado modelo biomédico, que nada mais é que a interação da saúde física com a saúde mental.  Pedro Narciso termina sua palestra levantando efeitos positivos no exercício físico usado para depressão leve, ansiedade,esquizofrenia e transtornos alimentares, entre outros distúrbios.  “Em algumas vezes podendo até mesmo diminuir os fármacos”, disse.  Então, termina o professor: “ É muito importante que os psiquiatras de hoje tenham noção da importância de se pensar em um atendimento conjunto entre o psiquiatra e o profissional de educação física”.

 

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